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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

ENTREVISTA AO JORNAL TRIBUNA DE LAVRAS


Mãe lavrense que teve o filho assassinado por causa das drogas faz um desabafo


Ela teve a vida de sua família devastada pelo problema do uso das drogas. Mas Jane de Carvalho Lopes, 60 anos, não esmoreceu diante do problema. Assumiu ao longo do tempo o papel de mãe e conselheira, amiga e guerreira ao filho, que era dependente químico.
Alexandre Lopes de Melo, 40 anos, foi assassinado no dia 9 de janeiro deste ano, em Lavras. O rapaz acusado de cometer o assassinato afirmou que a motivação do crime foi um acerto da compra de crack. O filho foi morto a golpes de tesoura em uma residência.
Jane revela que o drama vivido pela família durou 20 anos. Esse foi o tempo em que Alexandre se envolveu com o universo das drogas. Ela conta que ele chegou a ser internado uma única vez em uma clínica em Itamonte (MG), onde passou quatro meses, mas desistiu do tratamento após enfrentar dificuldades de adaptação com os métodos praticados pela entidade.
A mãe contou que conta que o filho conseguiu se manter longe das drogas por sete anos quando passou a freqüentar a Summit Lighthouse, uma comunidade espiritual, mas retornou ao vício depois que a mesma deixou a cidade. “Ele passou a andar com os velhos amigos e tudo voltou a ser como era”. Ela revela que Alexandre costumava usar álcool também.
“Meu filho nunca roubou ninguém, era uma pessoa muito querida no bairro onde a gente morava. Tive alguns objetos pegos dentro de casa por ele, que revendia para comprar droga depois que perdeu o emprego. Mas ele nunca fez mal a ninguém, era uma pessoa espiritualizada”, disse.
Jane afirmou também que chegou a seguir o filho durante a noite para saber do seu paradeiro. “Sentei com ele no meio fio da calçada e o vi comprar drogas”.  A mãe revela que chegou a fazer um boletim de ocorrência contra ele, mas não chegou a representar o documento.
Defesa
A mãe revelou que procurou ajuda com diversas entidades e o poder público, mas esbarrou na impossibilidade de uma internação compulsória do filho – quando o tratamento acontece sem o consentimento do paciente. A legalidade da internação, no entanto, depende da apresentação de um laudo médico, assinado por um psiquiatra.
Mesmo sendo uma medida legal em todo o País desde abril de 2001, a partir da publicação da Lei 10.216, ela vem sendo discutida pela opinião pública nacional e por especialistas nos últimos meses sobre a sua validade ou não.
“Sou a favor do método da internação voluntária. Meu filho não tinha mais autonomia da própria vida. Ele não se alimentava, não se vestia ou tomava banho. A gente precisava o lembrar para que isso acontecesse”, revelou.
Para Jane, é preciso que a sociedade cumpra o seu papel diante do avanço do tráfico e do consumo das drogas. “Se nada for feito o futuro pode ser tenebroso. As leis precisam ser cumpridas pelo Estado”. Ela defende que as famílias de usuários de drogas precisam se unir, discutir o problema e levar o debate para a esfera pública em Lavras.
Perdão
Jane contou que chegou a perdoar a mãe do suspeito de cometer o assassinato do filho, o jovem Jaickson Peniche Mesquita, 26 anos de idade. As duas participam do mesmo grupo de oração em uma igreja no bairro. Ela disse que a sua história serve de exemplo para que outras famílias não passem pelo mesmo sofrimento que o dela.
“A mãe do Jaickson sofre mais do que eu, pois meu filho saiu desse desespero todo, mas o filho dela permanece nessa situação. Não tenho nada contra ele, ele foi um instrumento na mão de Deus”, finalizou.

Foto Portal Lavras 24 Horas: Jane de Carvalho Lopes: 20 anos de luta para tentar tirar o filho do mundo das drogas.